1. Eintracht de Frankfurt vs FC Porto – Quem é que seria de apostar que, dois jogadores altamente contestados no reino do Dragão (Licá e Ghilas) seriam os obreiros do apuramento do FC Porto nesta eliminatória contra o Frankfurt?
Jogo de alta rotação com uma intensidade de jogo altíssima. Impróprio para cardíacos.
Depois do pesadelo do jogo do Dragão, o Porto esteve à beira de morrer em Frankfurt mas no fundo do poço, Licá e Ghilas bateram na mola e catapultaram a equipa quando esta mais precisava. O jogo pode ser explicado em traços muito simples: domínio do Porto em quase todos os aspectos do jogo: posse de bola, domínio territorial, ataques e remates. Num jogo muito partido na sua fase inicial, no qual em dois ou três toques os jogadores do Frankfurt conseguiam progredir no terreno e colocar a bola (e muitos homens) no ultimo terço do terreno, os dois golos de rajada da equipa alemã deveram-se mais uma vez a dois enormes erros defensivos dos centrais da equipa orientada por Paulo Fonseca.
A equipa alemã também demonstrou ser fortíssima no contra-ataque. É claro que a velocidade com que as equipas disputaram a partida facilitou a manobra ofensiva da equipa alemã. Tanto Mangala como Maicon fizeram um jogo para esquecer: o gigantão Meier deu muito trabalho e os centrais falharam por imensas vezes a marcação ao falso número 9 do Frankfurt. Mangala ainda conseguiu emendar os erros cometidos com as duas fantásticas cabeçadas que executou na área do Frankfurt. Logo a seguir ao golo do francês, o Frankfurt poderia ter selado o apuramento naquele estonteante contra-ataque conduzido pela faixa central pelo espanhol Joselu. Valeu a excelente intervenção de Alex Sandro junto da linha de golo. Quando este a 15 minutos do fim fez o 3-2, numa fase em que o Porto, depois de empatar a partida estava mais capaz de selar a eliminatória do que o contrário, pensou-se que era o fim da linha para o FC Porto e quiçá para Paulo Fonseca, apesar deste ter afirmado na conferência de imprensa posterior à partida que o jogo não era decisivo para a sua permanência no comando técnico do clube.
Valeu a força psicológica dos jogadores do clube da invicta. Se com 2-0 no marcador a favor dos alemães, a jogar melhor que a equipa germânica, a equipa portuguesa teve uma enorme capacidade de resposta, 0 3-2 poderia ter sido dificílimo de superar. A capacidade de resposta da equipa de Paulo Fonseca foi o seu maior trunfo nesta partida diante da eficácia dos alemães tanto no 1º jogo como na partida de hoje.
Tranquillo Barnetta – É uma pena o facto do Suiço ter passado ao lado de uma grande carreira. Não lhe faltam capacidades técnicas, capacidade de remate de meia distância e visão de jogo. Falta-lhe alguma velocidade e quiçá, digo eu, um pouco de brio. Ao longo da sua carreira teve todos os ingredientes para ser um dos melhores do mundo na sua posição mas, ou por falta de profissionalismo, ou por medo, ou por qualquer outro factor que por vezes o futebol por si só não explica, acabou por se arrastar por clubes sem grandes objectivos.
Na equipa alemã, quem me encantou nestes dois jogos foi o espanhol Joselu. Este espanhol de 24 anos, tem um currículo tão banal como centenas de jogadores espanhois. Criado na formação do Celta de Vigo, estreou-se aos 18 anos na equipa b dos galegos e logo despertou a cobiça do Real Madrid que o deixou permanecer em Vigo mais um ano (2009\2010). Em Madrid não teve a sorte do seu lado: fez 40 golos em duas épocas ao serviço do Castilla (72 jogos) na 2ª liga espanhola e apenas um jogo pela equipa principal dos merengues, curiosamente, onde até marcou. Sem espaço no plantel principal dos merengues, escondido no ocaso de grandes estrelas mundiais como Benzema ou Higuaín, decidiu assinar pelo Hoffenheim em 2012. No seu ano de estreia da Bundesliga em 2012\2013 marcou por 5 vezes em 25 jogos. A equipa decidiu emprestá-lo ao Eintracht de Frankfurt, clube onde marcou 3 golos em 10 jogos.
Não sendo um finalizador por excelência é um jogador rapidíssimo, com um sentido técnico muito apurado, rendendo mais nas costas de um ponta-de-lança visto que quando a bola lhe chega aos pés tem remate fácil, consegue criar muitos desequilíbrios no 1×1 e arrancadas a alta velocidade, facto que não só lhe permite muitas investidas individuais no último terço do terreno como são benéficas para que o espanhol arraste um dos centrais consigo e assim consiga não só arranjar espaço livre para os seus colegas como criar jogo para o homem de referência da equipa, Alexander Meier.
Estou seguro que o veremos dentro em breve o veremos a jogar num dos crónicos candidatos às competições europeias da Liga Espanhola (Espanyol, Real Sociedad, Getafe, Sevilla, Bétis).
2. Napoli vs Swansea – Já diz o ditado futebolístico que “quem não marca sofre” – Rafa Benitez igual a si próprio. Se o Napoli é hoje um grande candidato a vencer a Liga Europa tal se deve à mentalidade com que o espanhol encara os jogos a eliminar. Já era assim nos tempos do Valência, clube pelo qual o espanhol venceu a Taça UEFA em 2004 e no Liverpool, clube pelo qual o técnico venceu a Champions logo no ano seguinte, precisamente o ano da sua estreia no comando técnico dos Reds. Livre de encargos no campeonato (neste momento o Napoli é 3º, já não está em condições de lutar pelo título italiano; tem a Fiorentina a 6 pontos e o Inter a 10; não é expectável que os nerazzurri consigam recuperar esses 10 pontos de diferença até ao final da Serie A) a Liga Europa pode ser o tal troféu que a equipa presidida pelo cineasta Aurelio Di Laurentiis tanto procura nos últimos anos.
No Napoli, Benitez apenas se pode queixar do facto de, na fase-de-grupos da Champions, ter sido eliminado por um golo (o de Kevin Grosskreutz ao Marseille nos últimos minutos) – em condições normais de apuramento, ou seja, com a obtenção de 10 ou mais pontos nas 6 jornadas da fase-de-grupos da prova, este Napoli ainda estaria hoje a discutir o apuramento para os quartos-de-final da Champions e não para os oitavos da liga europa. Na história da Champions, só por 7 vezes, equipas que pontuaram 10 ou mais pontos na fase de grupos ficaram de fora da fase final da prova.
Lorenzo Insigne abriu o marcador no San Paolo com um golo de se tirar o chapéu. O Swansea respondeu e na segunda parte, Wilfried Bony teve tudo para poder fazer o 2-1 numa cabeçada no coração da área que Pepe Reina defendeu. Mortífero no contra-ataque o Napoli não perdoou e Higuaín aproveitou um ressalto resultante de uma situação em que um jogador do Swansea tentou aliviar a bola mas esta acabou por bater num dos seus companheiros de equipa e ressaltar para os pés do avançado argentino, que assim quebrou o enguiço pelo qual foi extremamente criticado em Itália no decurso desta época: o facto de falhar imensos golos nos jogos importantes do Napoli. Com o 2-1, a equipa de Benitez tranquilizou, meteu o seu fortíssimo contra-golpe e o Swansea desapareceu da partida. Higuaín falhou o 3-1 na cara do holandês Michael Vorm e minutos depois o suiço Gokham Inler selou a passagem à próxima ronda da prova.
3. Antevisão Napoli vs FC Porto –
O Napoli é uma equipa fortíssima. O ataque dos Napolitanos é assustador. Se a consistência defensiva se deve em muito ao equilíbrio que os musculados “relógios suiços” Behrami, Dzemaili e Inler dão à equipa, daí para a frente, veleidades como aquelas que Maicon e Mangala deram hoje são motivo mais que suficiente para crer que o Napoli resolve tranquilamente no San Paolo com goleada, faça o que fizer o Porto no ataque. Mertens e Marek Hamsik são os grandes playmakers desta equipa: aceleram o jogo como ninguém, põe-no incontrolável, diria mesmo diabólico, assistem, aparecem atrás dos pontas-de-lança a aproveitar todas as segundas bolas e servem um trio de virtuosos: Insigne, Callejón e Higuaín. Se o terceiro está sempre no sítio certo à hora certa, o primeiro é um talento prodigioso que, em perimetros muito curtos, num gesto repentino mete o lateral nas covas e atira a matar. O 2º é fortíssimo no contra-ataque e aparece muito bem na área a finalizar.
Um dos pontos que a equipa portuguesa poderá explorar são as subidas dos laterais. Benitez faz subir muito no terreno tanto o francês Ghoulam como o colombiano Zuñiga como o italiano Christian Maggio. As devidas compensações as alas são feitas pelos suiços. Behrami executa esse papel na perfeição visto que a sua posição de origem é precisamente a de lateral direito. Dzemaili é um todo-o-terreno que joga bem em qualquer posição do terreno. Já Inler é um jogador que combina músculo com skills técnicos. Tanto é capaz de entrar a varrer no miolo como a seguir iniciar uma transição com um passe longo de campo-a-campo. Se Varela e Quaresma estiverem naqueles dias em que conseguem fazer muitas arrancadas em velocidade pelas alas, poderão ter muito espaço para jogar nos seus respectivos sectores.
4 – Benfica vs PAOK – O rendimento de Nico Gaitán tem destas vicissitudes: apesar de estar longe do jogador que era aquando da conquista do título em 2010, de vez em quando o argentino consegue sacar da cartola momentos mágicos. Contra o Sporting na época passada por exemplo, fez aquele pingue pongue maravilhoso com Lima que resultou no golo do avançado brasileiro. Hoje tirou o génio da gaveta e engavetou a bola com classe nas redes do defunto PAOK. O Benfica passa à próxima ronda, onde lhe espera o Tottenham.
Miroslav Stoch e Sotiris Ninis são duas peças muito mal empregues neste PAOK. Não será admirável se os dois pretenderem mudar de áres no final da temporada. Principalmente o eslovaco, muitas vezes relegado para o banco de suplentes por Huub Stevens ao longo desta temporada, quando, é de facto o único jogador capaz de mexer com o ataque dos gregos. O único jogador capaz de se afirmar como o 3º melhor da equipa é precisamente o veterano Lino. Aos 36 anos, o brasileiro ainda dava muito jeito a um dos grandes deste país. Certinho a defender e muito acutilante a atacar, é dos pés do brasileiro que nasce metade do perigo deste PAOK a partir dos seus arqueados cruzamentos. De resto, este PAOK parece a feira das antiguidades: Katsouranis, Maduro, Salpingidis são jogadores cujo prazo de validade futebolístico ao mais alto nível já passou há muito.
5- Tottenham vs Dnipro – Os londrinos não podem respirar de alívio. Apontava o Dnipro como uma das possíveis equipas revelação do torneio. A equipa de Juande Ramos joga um daqueles futebóis cínicos que só poderemos encontrar nas equipas do leste (Rússia, Ucrânia, Roménia, Bulgária) e guiando-se pelas boas maneiras daquela malta, tem no contra-ataque a sua melhor arma. As equipas ucranianas costumam ser muito complicadas de ultrapassar. Apesar do Dnipro ser uma equipa altamente mecanicizada (vertical) para jogar para as suas duas referências (Eugene Konoplyanka e o nosso conhecido Matheus) tal não chegou para bater o Tottenham de Tim Sherwood. Nos últimos dias, tem-se falado em Inglaterra que o próximo dono da cadeira de sonho em White Hart Lane (cheínha de milhões para investir a sério; visto que o investimento este ano, mal pensado, mal estruturado, foi uma brincadeira de crianças) é Louis Van Gaal. Para Daniel Levy, o presidente do clube londrino, venha quem vier, terá a espinhosa missão de conduzir o clube ao objectivo a que este se propôs nos últimos 3 anos: conseguir lutar pelo título inglês. O clube não irá suportar um novo fracasso na próxima temporada.
6 – Antevisão do Benfica vs Tottenham – Futebol total. Ataque, ataque, ataque. Será um duelo com desfecho imprevisível. Duas equipas que gostam de jogar ao ataque. Os encarnados detém um ligeiro favoritismo pelo facto de estarem a jogar um futebol lindíssimo no actual momento da temporada e de, estarem altamente moralizados para vencer todas as frentes competitivas onde estão inseridos. Por seu turno, o Tottenham poderá ganhar forças extra para encarar a equipa portuguesa: o apuramento para as competições europeias por via do campeonato irão exigir uma luta permanente até ao final da temporada. A Liga Europa pode surgir neste contexto como um excelente leitmotiv para moralizar os jogadores dos Spurs.
7 – Antevisão Fiorentina vs Juventus – Na minha opinião, este é o grande cabeça de cartaz da próxima eliminatória. Os torinese desmontaram a veterania\matreirice do Trabzonspor de José Bosingwa, Didier Zokora e Florent Malouda em dois tempos. A Fiorentina passeou frente ao modesto Esberg da Dinamarca. A Juventus apanhou 4-2 no Artemio Franchi no primeiro embate que as equipas realizaram para a Serie A. Nesse jogo, a Fiorentina virou um 1-2 para 4-2 em menos de 15 minutos, com destaque para a exibição do agora lesionado Giuseppe Rossi. Rossi está de baixa mas a equipa Viola apresenta na frente Alessandro Matri e o regressado Mario Gomez. Atrás reside uma linha média das mais talentosas da hodiernidade do futebol mundial: Juan Guillermo Cuadrado na direita, Joaquin na esquerda, Mati Fernandez no apoio ao ponta de lança e um backcourt de luxo composto por homens como David Pizarro, Borja Valero, Anderson ou Aquilani.
Para adoçar ainda mais o estudo destas duas equipas, convém referir que os dois treinadores apresentam um dispositivo táctico semelhante, o 3x5x2, apesar de Montella jogar regularmente com um 4x3x3 composto por Modibo Diakité, Nenad Tomovic ou Facundo Roncaglia na direita, Manuel Pasquale na esquerda, Savic e Gonzalo Rodriguez no eixo central, Pizarro, Valero ou Aquilani, Matías ou Aquilani, Joaquin, Cuadrado e Matri ou Gomez.
Aqui o vosso escritor de serviço deverá ir ao Artemio Franchi ver in loco esta eliminatória.
8 – Lyon vs Chernomorets
Só para assinar que Alexandre Lacazette voltou a abrir o livro. Merece muito mais este jovem avançado do Lyon. É um precioso talento numa equipa muito mas mesmo muito fraca.
Nota final para o Ludogorets vs Lazio, para o Red Bull Salzburg.
Quanto à equipa bulgara, a passagem obtida frente aos Laziale não me admira muito. A equipa dos portugueses Vitinha, Fábio Espinho e do galego mais beiramarista que conheço (Dani Abalo) é definitivamente a equipa sensação do torneio. É uma equipa que leva o cinismo futebolístico ao seu cume mais alto. A equipa bulgara, equipa onde para além dos 3 supra-citados, é composta por jogadores como Junior Caiçara (ex-Gil Vicente) Tero Mantyla, Yordan Minev, Cosmin Moti ou Roman Bezjak, ou seja, jogadores desconhecidos na alta roda do futebol mundial, engana muita gente. Todos estes jogadores foram revelação nas suas ligas nacionais em clubes pequenos dessas mesmas ligas. O Ludogorets Razgrad não sabe o que é jogar em casa para as competições europeias. A sua arena não é homologada pela UEFA para as competições europeias, facto que obriga os bulgaros a ter que pedir emprestada a casa do Levski de Sófia. É uma daquelas equipas chatas, chatinhas, que se mete a defender 90 dentro da área se tal for necessário. Raramente se desorganizam, raramente concedem espaços aos adversários, raramente se lançam no contra-ataque com mais de 2 ou 3 elementos, raramente fazem mais do que 5 ou 6 remates à baliza adversária e, last but not the least, raramente saíram de uma partida a contar para a liga europa com uma eficácia de remate baixa.
Poderão complicar a vida a muito boa gente. A começar pelo Valência
O mesmo se pode dizer do Red Bull Salzburg. A equipa austríaca tem a sua maior referência no espanhol Jonathan Soriano. Enganem-se aqueles que acreditam que os nomes ganham jogos. Esta equipa chegou a Amesterdão e aplicou chapa três aos holandeses em meia hora. Limpinho, limpinho. Irão ter o seu teste de fogo na prova frente ao Basileia num duelo entre vizinhos que promete.