Estádio Universitário de Lisboa – Portugal 9-34 Geórgia.
Depois da derrota do passado fim-de-semana em Cluj frente à selecção Romena por 24-0 para a 6ª jornada do Torneio Europeu das Nações\Qualificação Europeia para o Campeonato do Mundo de 2015, cumpria à selecção portuguesa passar uma imagem melhor do que aquela que passou frente aos Romenos num jogo em que não conseguiu entrar no jogo e praticar um rugby minimamente ofensivo.
Frente à líder do torneio, a selecção georgiana, vinda a Lisboa sem algumas das suas principais peças como Mamuka Gorkhodze, 3ª linha do Montpellier, carinhosamente tratado no mundo do rugby como Gorkodzilla, sem menosprezar o maior poderio da selecção do caucaso em virtude da militância de maior parte dos seus jogadores em equipas francesas, a selecção nacional tinha a missão de tentar fazer aquilo que já não consegue desde Fevereiro de 2005: bater a equipa georgiana. Com 2 empates nos últimos 10 encontros, o favoritismo recaía obviamente sobre a turma georgiana.
O seleccionador nacional Frederico Sousa não pode contar para esta jornada com algumas das peças-chave da selecção nacional, casos do 2ª linha Jacques Le Roux (o acordo feito entre o atleta e o seu clube, o Coventry, apenas lhe permitiu estar disponível para o jogo da Roménia) do médio-de-formação Pedro Leal (na semana passada nasceu a sua filha) e do asa Julien Bardy, o luso-francês que alinha no Clermont do Top 14.
Da 6ª jornada da prova chegou a informação de que a Roménia venceu na Rússia por espantosos 34-3, obtendo na partida 4 ensaios, incidência que fez os Romenos somar 4 pontos e ultrapassar à condição a Geórgia com mais 1 ponto de vantagem.
Num jogo disputado a um ritmo muito lento nos primeiros 20 minutos da partida, Portugal conseguiu entrar melhor e aproveitar uma falta romena numa touche a meio-campo para ir aos postes. O jovem centro de 19 anos do CDUP Pedro Ávila, uma das grandes revelações desta época desportiva, não teve medo de arriscar pontapear aos postes e quase do meio-campo colocou a equipa nacional a ganhar por 3-0 logo aos 3″.
Passados 4 minutos, Bruno Rocha haveria de cometer a primeira de muitas faltas portuguesas nas formações ordenadas, faltas que tantos pontos deram ao defesa-flanqueador Merab Krivikashvili com o seu efectivo pontapé. A primeira linha portuguesa, formada por Bruno Rocha, Jorge Segurado e Mike Ribeiro teve muitas dificuldades para ombrear com os 3 jogadores da primeira linha georgiana. Num pontapé a cerca de 26\27 metros dos postes, o experiente pontapeador georgiano marcou a primeira das 4 penalidades que iria marcar na primeira parte. Quase todas as faltas resultaram de acções ilegais cometidas pela primeira linha lusitana na melée.
A partir dos 20″, já a ganhar por 9-3, os georgianos sentiram-se capazes de acelerar o jogo, praticar o seu habitual jogo de perfuração no perímetro curto, fazer mexer a sua poderosa linha avançada de forma a jogar para um ensaio que pusesse tranquilidade absoluta na partida. Do outro lado, na primeira metade do primeiro tempo, Portugal não conseguiu montar uma única fase ofensiva. Se não estou enganado, Portugal não conseguiu colocar a bola nos 22 metros georgianos.
O jogo foi desenrolado num ambiente controlado pelos georgianos. Com superioridade a todos os níveis na luta entre os pack avançados (touche, melée, jogo no solo) Portugal foi resistindo como pode às incursões dos poderosos jogadores georgianos (avançados e 3\4; é de realçar que os 3\4 georgianos são tipos com um poderio físico bastante semelhante aos avançados) não podendo resistir mais quando, no último minuto da primeira parte, mais uma falta portuguesa na formação ordenada faz os georgianos dispensarem um pontapé aos postes dentro dos 22 metros, colocarem a bola fora para a touche, ganharem o alinhamento e em dois passes, obterem o seu primeiro ensaio da partida por intermédio de um dos seus centros. Ao intervalo, os georgianos venciam por 17-3 uma equipa portuguesa que se limitou praticamente a defender durante o primeiro tempo.
Na 2ª parte, os espectadores que marcaram presença no Estádio Universitário de Lisboa puderam assistir a uma mudança de atitude dos jogadores nacionais nos primeiros 10 minutos. Com mais posse de bola dentro do meio-campo georgiano, coube até à selecção nacional abrir o marcador na 2ª parte com mais um pontapé de Pedro Ávila (quase do meio-campo) a castigar uma falta georgiana no ruck. O jogador do CDUP não teve medo de arriscar novamente o seu pontapé e de certa maneira consolidou a sua posição enquanto pontapeador de penalidades da selecção, departamento do jogo onde Frederico Sousa não tem neste momento grandes opções.
Passados dois minutos, os georgianos não arriscaram e aproveitaram uma falta portuguesa dentro dos 22 metros para repor novamente a vantagem nos 14 pontos (6-20) com uma nova penalidade de Merab Krivikashvili. O jogador do St Julien do 3º escalão francês, melhor marcador da história da selecção georgiana logrou ultrapassar em Lisboa a barreira dos 500 pontos marcados pela sua selecção.
Na reposição da bola em jogo, Portugal tentou aproximar-se mais e Pedro Ávila aproveitou mais um erro georgiano para marcar mais uma penalidade difícilima a cerca de 40 metros em zona frontal. Os treinadores começaram a mexer no seu 15 (a selecção georgiana, comandada por um neozelandês, já o tinha feito ao intervalo com a troca de formações) e os georgianos começaram novamente a acelerar as suas jogadas ofensivas. Com facilidade conseguiram obter dois ensaios: um por Krivikashvili aos 58″ num lance em que o defesa-flanqueador teve alguma sorte do seu lado ao recolher à frente um ressalto que bateu na cabeça de Pedro Ávila quando tentava executar um passe para a direita e outro aos 70″ numa fácil troca de bola que seria finalizada pelo centro David Krachava no flanco esquerdo. Pelo meio, a selecção Portuguesa teve oportunidade de marcar o seu ensaio de honra numa excelente troca de bola à esquerda mas o neozelandês naturalizado Carl Murray, até aqui pouco em jogo na partida, foi muito bem placado junto à linha lateral.
O jogo acabaria por terminar com uma vitória fácil dos Georgianos por 34-9. Com 3 ensaios marcados, os georgianos não tiveram direito a um ponto de bónus. A selecção portuguesa aniquilou qualquer possibilidade de chegar ao 3º lugar da prova, posição que dá direito à disputa de um playoff contra a 2ª classificada da zona africana e depois contra a 1ª classificada da zona sul-americana (Uruguai) faltando disputar neste Torneio Europeu das Nações 3 partidas: uma daqui a 2 semanas em Bruxelas, outra na semana seguinte na Rússia e uma última em Lisboa em Março frente à nossa congénere espanhola. Com o fim do sonho do apuramento para o mundial, a selecção nacional entra definitivamente numa nova fase. Até à próxima ronda de apuramento para o mundial (16\17; ainda existe um Torneio Europeu das Nações na época 2015\2016) Frederico Sousa tem todo o tempo do mundo para completar a renovação em curso na selecção nacional de forma a conseguir construir uma equipa mais competitiva que a que a selecção nacional apresentou no Torneio Europeu das Nações 13\14.
Como nota final, deixo uma crítica para a Federação Europeia de Rugby (FIRA\AER) em virtude de um problema crónico que tem vindo a ser habilmente torneado pelas selecções mais fortes (Roménia, Rússia e Geórgia) que não abona em nada para a igualdade de condições que se pretende para a prova que apura as selecções europeias de 2º nível para a prova máxima da modalidade. Uma das razões que levou o seleccionador nacional a não ter um XV fixo durante as 7 jornadas até agora disputadas no torneio foi precisamente o facto dos clubes estrangeiros onde alinham jogadores portugueses não autorizarem a deslocação destes para alinhar em alguns jogos internacionais. As janelas internacionais programadas pela FIRA\AER em Fevereiro\Março são exactamente as mesmas que estão programadas por exemplo para o Torneio das 6 Nações, a prova máxima que junta Escócia, França, Inglaterra, Itália, País de Gales e Irlanda. Contudo, como se trata de uma prova menor (se um apuramento para um mundial é uma prova menor, vou ali e já venho) os clubes estrangeiros onde alinham jogadores portugueses não são obrigados a libertar os atletas. Na maior parte dos casos, no momento de assinatura do contrato, as equipas acordam com os jogadores portugueses o número de jogos em que podem ser libertados para a sua selecção durante o período estipulado contratualmente. Apesar dos principais campeonatos europeus não pararem nesta altura, as equipas grandes do rugby europeu acedem a libertar os seus melhores jogadores para as respectivas selecções sem que as federações sejam obrigadas a custear o salário do atleta durante as ausências dadas no clube.
No que diz respeito às selecções que disputam o Torneio Europeu das Nações, tanto a Federação Georgiana como a Federação Romena, federações com outras posses monetárias que a Federação Portuguesa de Rugby não dispõe, optam por pagar a libertação dos seus atletas aos clubes de forma a poderem competir com as suas melhores armas. Tal facto é efectivamente causador de mais desigualdade entre equipas que tem, à priori, níveis de evolução diferente.