O que eu ando a ver #61

Sevens World Series – Etapa 7 – Hong Kong

A selecção portuguesa de Sevens precisava de um bom resultado no torneio asiático para não colocar em risco a sua manutenção no circuito mundial de rugby de 7.

No evento de Hong Kong, com os nossos mais directos rivais presentes (a Espanha), os resultados obtidos na fase de grupos (derrotas com a Inglaterra por 21-7, Canadá 35-7 e Argentina por 19-7) atiraram-nos para uma situação pouco confortável visto que os espanhóis estavam a obter excelentes resultados no seu grupo contra selecções de topo (derrota por 14-28 contra a Australia, 14-22 contra a Africa do Sul e 14-10 contra a França), resultados que de resto fariam pensar que a Espanha poderia estar embalada para poder vencer ou ir à final da Bowl (pontuando 8 ou 6 pontos, ou à final da Shield 4\2 pontos). O primeiro cenário poderia ser desastroso para a selecção portuguesa.

Nos quartos-de-final da 3ª Taça (Bowl) tivemos tudo nas mãos para podermos somar mais pontos do que aqueles que somámos com a derrota na final da 4ª taça (Shield) frente ao Quénia. No jogo contra os Franceses, os Lobos tiveram à disposição 2 períodos de 2 minutos (7 minutos e meio por parte) em superioridade numérica por cartão amarelo (sin bin de 2 minutos) e nos últimos 3 e meio chegaram mesmo a jogar com mais um jogador devido à expulsão do mais internacional dos gauleses, Julian Albadalejo. O francês foi expulso por agressão a um jogador português.
Portugal abriu o marcador por intermédio de um ensaio de Duarte Moreira no qual o jogador do Belenenses correu praticamente o campo inteiro com bola. Na 2ª parte, o jogador do CDUP Pedro Ávila construir uma excelente oportunidade de ensaio para Tomás Noronha mas o jogador do CDUL não foi capaz de finalizar, tendo sido placado junto à linha de ensaio. O lance acabou com uma falta de Miguel Noronha por toque para a frente.

Na 2ª parte, os franceses viraram a partida para 14-7 e Portugal respondeu com um ensaio fantástico na ponta direita depois de uma jogada na qual Pedro Leal procurou assertivamente ao pé a corrida de Tomás Noronha no flanco direito para o ensaio que colocava Portugal a 2 pontos. O jogador do GD Direito atirou um pontapé de ressalto do canto direito com algum grau de dificuldade e empatou a partida a 14. Na reposição de bola, os franceses foram ao meio-campo português e conseguiram fazer o 19-14 com um ensaio obtido sobre uma disciplicente e ineficaz defensiva portuguesa.

Nos quartos-de-final, os espanhóis perdiam 7-5 contra os Argentinos.

Nas meias-finais da Shield, Portugal bateu o Sri Lanka por 24-19 (3 ensaios de Duarte Moreira e um do experiente David Mateus com 3 conversões de Pedro Leal; Pipoca como é mais conhecido no mundo do rugby tornou-se em Hong Kong o 9º jogador com mais pontos na história da competição) enquanto o Quénia bateu os espanhóis.

Na final da Shield, os Lobos voltaram a perder contra o Quénia por 17-10 num jogo em que Portugal entrou a perder com dois ensaios (não-convertidos) nos primeiros 3 minutos. Duarte Moreira ainda equilibrou a balança a 30 segundos do intervalo com um ensaio que Pedro Leal não conseguiu converter (10-5) mas na 2ª parte, os quenianos com um novo ensaio (convertido) mataram praticamente o jogo. A 30 segundos do final da partida, Adérito Esteves ainda conseguiu reduzir.

Com o pontinho ganho à Espanha, Portugal somou 24 pontos contra 10 dos espanhóis no ranking das Series quando faltam duas rondas para o final

A Nova Zelândia venceu o torneio e lidera o ranking mundial. Faltam as duas etapas europeias. Em Maio, Glasgow e Londres recebem as etapas finais do circuito mundial 2013\2014.

breve

O adeus dos “Lobos” ao Mundial 2015. Derrota por 34-18 em Sochi na Rússia. Ao intervalo, após uma primeira parte de sonho num terreno muito difícil, a selecção portuguesa perdia apenas por 4 pontos (13-17).

Como é habitual na selecção portuguesa, os primeiros 10 minutos da 2ª parte foram um pesadelo e os russos construiram a vantagem final.

Gorada a hipótese de chegar ao evento de 2015, urge começar a preparar os próximos Torneios Europeus das Nações (15\16, 17\18; esta última é simultaneamente a fase de qualificação para o mundial de 2019). Para esse efeito, muito tem que ser mudado e trabalhado no rugby português:

  • As condições de utilização de jogadores não tem sido iguais para todas as Federações\Selecções. Apesar de ser uma prova de qualificação para o mundial, a organização está a cargo da Federação Europeia, a FIRA\AER. Como alguns dos maiores campeonatos do rugby europeu não param durante esta fase (mesmo apesar de estar a decorrer o Torneio das 6 Nações) algumas equipas onde alinham jogadores convocáveis para a selecção portuguesa não são obrigadas a libertar esses jogadores. O que por norma acontece é que os jogadores portugueses acordam com os seus clubes datas para serem libertados de forma a poder jogar pela selecção, datas essas que não incluem todos os compromissos da selecção. O mesmo acontece com as selecções Romena e Georgiana. Contudo, com outro tipo de apoio financeiro que a Federação Portuguesa de Rugby não dispõe, essas selecções acabam literalmente por pagar aos clubes o salário correspondente aos dias de utilização dos jogadores em questão, coisa que a FPR não faz porque não tem poderio financeiro. A Federação Portuguesa de Rugby deverá solicitar à FIRA\AER a permissão para obrigar os clubes a libertarem os atletas. Não é justo que a Roménia faça alinhar os 14 ou 15 jogadores que jogam em França semana após semana e que Portugal apenas possa utilizar os jogadores que alinham lá fora 2 ou 3 vezes a cada 5 jogos. É pura e simplesmente desigual e dificulta ainda mais as escolhas do seleccionador e o desenvolvimento da equipa que se pretende formar.
  • Muito se tem falado da democratização do jogo em Portugal. O rugby português está, quase na sua totalidade, implantado na região de Lisboa. Nos 12 clubes de 1ª divisão, apenas 3 (CRAV, Académica, CDUP) são do Norte. Desses 3 clubes, apenas 1 jogador tem sido convocado para a selecção (Pedro Bettencourt Ávila), jogador que de resto foi aquele que teve melhor prestação neste torneio. A Selecção Portuguesa de Rugby tem sido tratada quase como uma coutada familiar. Noutros casos, tem sido tratada como um balão experimental. Ou seja: há uma tendência clara para convocar jogadores de Lisboa em detrimento de outros talentos que vem surgindo nos clubes de província. Quando os jogadores de Lisboa não satisfazem, a Federação Portuguesa trata de ir às 3ªas e 4ªas divisões francesas buscar luso-descendentes que em nada são melhores que alguns miúdos da Académica ou do CDUP. Se a Académica e o CDUP tivessem maus planteis, coisa que não tem, ou escolas de formação piores que as equipas de Lisboa, facto que também não tem, compreendia perfeitamente a não convocação de atletas desses clubes. Como ao nível da formação, tanto a Académica como o CDUP são equipas consagradas constantemente com a obtenção de títulos nacionais e Taças de Portugal e tem sempre dezenas de atletas nos estágios das selecções, não consigo perceber porque é que chegam à selecção sénior e são descartados ora por jogadores de equipas Lisboetas que não tem qualquer caminho percorrido nas selecções jovens, ora por luso-descendentes cuja qualidade deixa a desejar.
  • Outro dos argumentos que tem sido utilizado para justificar a estagnação do rugby português nos últimos anos é o défice que a modalidade tem em cativar os jovens à sua prática. Primeiro, nos grandes centros urbanos onde é praticada a modalidade, esta é tida como elitista. É um facto. Segundo, os clubes não fazem divulgação alguma das suas actividades. Tem sobrevivido quase às custas da captação de filhos de antigos jogadores. O próprio site da Federação Portuguesa de Rugby é obsoleto, desactualizado. Não basta realizar semestral ou anualmente meia dúzia de actividades com jovens para tornar a modalidade mais apetecível. É preciso levar a modalidade aos jovens e o melhor veículo que existe para tal efeito é inserir a modalidade no desporto escolar. Só a partir do desporto escolar é que o interesse dos jovens pela prática federada da modalidade pode ser incutido assim como a criação de clubes em regiões do país onde o rugby é neste momento uma modalidade tida como demasiado complexa e até mesmo longínqua (coisa de lisboetas ricos).
  • A questão dos seleccionadores nacionais. O maior erro cometido na Selecção Nacional de Rugby foi a saída de Tomaz Morais após o Mundial de 2007. Compreendo perfeitamente as razões de Tomaz Morais. Em 2007, o seu ciclo tinha terminado, os objectivos a que se propôs tinham sido cumpridos e era altura de abraçar outros desafios profissionais. A estrutura existente na FPR também não ajudou em nada à manutenção do técnico. A modalidade permaneceu amadora, as condições de treino existentes no Jamor são péssimas e no caso concreto dos jogadores, para alguns representarem a selecção, tem que abdicar bastante da sua vida profissional e pessoal. No entanto, a FPR teve culpas no cartório: deixaram Daniel Hourcade (adjunto de Tomaz Morais) ir embora para a Argentina quando no fundo, o argentino poderia ser uma excelente continuação do trabalho realizado até então. Errol Brain mal aqueceu o lugar. Não sei quais foram as razões que levaram à sua demissão mas boa coisa não deverá ter sido. O nosso staff técnico comparado com o de outras selecções (basta referir que a Geórgia tem um batalhão de treinadores para todos os departamentos de jogo; treinadores de avançados, de 3\4, um especialista no treino de touches e melées; um treinador de pontapeadores) é incipiente e muito mal formado. Constituído essencialmente por antigos jogadores. Tenho muito respeito tanto pelo Frederico Sousa como pelo João Uva, foram 2 dos melhores jogadores de sempre do rugby português, conquistaram 2 feitos únicos para o rugby português (a vitória no Torneio Europeu das Nações em 2005 e a qualificação para o mundial de 2007) mas neste momento não são as melhores opções para comandar os destinos da selecção nacional. É preciso evoluir. E para evoluir só vislumbro uma de duas soluções: ou o regresso de Tomaz Morais ou a contratação de um técnico estrangeiro devidamente credenciado no desenvolvimento de selecções menores no panorama internacional.
  • As apostas tem que ser equilibradas. Eu sei que é muito bonito para o principal patrocinador da FPR (a Unicer; no passado mês de Fevereiro voltaram a renovar o patrocínio com a federação por mais 3 anos) ter uma equipa de sevens nas World Series (pese embora o facto de neste momento termos um estatuto consolidado na variante) mas tem-se denotado nos últimos anos uma aposta quase total na variante de 7 em detrimento da aposta na variante de 15.

 

O que eu ando a ver #36

Estádio Universitário de Lisboa – Portugal 9-34 Geórgia.

Depois da derrota do passado fim-de-semana em Cluj frente à selecção Romena por 24-0 para a 6ª jornada do Torneio Europeu das Nações\Qualificação Europeia para o Campeonato do Mundo de 2015, cumpria à selecção portuguesa passar uma imagem melhor do que aquela que passou frente aos Romenos num jogo em que não conseguiu entrar no jogo e praticar um rugby minimamente ofensivo.

Frente à líder do torneio, a selecção georgiana, vinda a Lisboa sem algumas das suas principais peças como Mamuka Gorkhodze, 3ª linha do Montpellier, carinhosamente tratado no mundo do rugby como Gorkodzilla, sem menosprezar o maior poderio da selecção do caucaso em virtude da militância de maior parte dos seus jogadores em equipas francesas, a selecção nacional tinha a missão de tentar fazer aquilo que já não consegue desde Fevereiro de 2005: bater a equipa georgiana. Com 2 empates nos últimos 10 encontros, o favoritismo recaía obviamente sobre a turma georgiana.

O seleccionador nacional Frederico Sousa não pode contar para esta jornada com algumas das peças-chave da selecção nacional, casos do 2ª linha Jacques Le Roux (o acordo feito entre o atleta e o seu clube, o Coventry, apenas lhe permitiu estar disponível para o jogo da Roménia) do médio-de-formação Pedro Leal (na semana passada nasceu a sua filha) e do asa Julien Bardy, o luso-francês que alinha no Clermont do Top 14.

Da 6ª jornada da prova chegou a informação de que a Roménia venceu na Rússia por espantosos 34-3, obtendo na partida 4 ensaios, incidência que fez os Romenos somar 4 pontos e ultrapassar à condição a Geórgia com mais 1 ponto de vantagem.

Num jogo disputado a um ritmo muito lento nos primeiros 20 minutos da partida, Portugal conseguiu entrar melhor e aproveitar uma falta romena numa touche a meio-campo para ir aos postes. O jovem centro de 19 anos do CDUP Pedro Ávila, uma das grandes revelações desta época desportiva, não teve medo de arriscar pontapear aos postes e quase do meio-campo colocou a equipa nacional a ganhar por 3-0 logo aos 3″.

Passados 4 minutos, Bruno Rocha haveria de cometer a primeira de muitas faltas portuguesas nas formações ordenadas, faltas que tantos pontos deram ao defesa-flanqueador Merab Krivikashvili com o seu efectivo pontapé. A primeira linha portuguesa, formada por Bruno Rocha, Jorge Segurado e Mike Ribeiro teve muitas dificuldades para ombrear com os 3 jogadores da primeira linha georgiana. Num pontapé a cerca de 26\27 metros dos postes, o experiente pontapeador georgiano marcou a primeira das 4 penalidades que iria marcar na primeira parte. Quase todas as faltas resultaram de acções ilegais cometidas pela primeira linha lusitana na melée.

A partir dos 20″, já a ganhar por 9-3, os georgianos sentiram-se capazes de acelerar o jogo, praticar o seu habitual jogo de perfuração no perímetro curto, fazer mexer a sua poderosa linha avançada de forma a jogar para um ensaio que pusesse tranquilidade absoluta na partida. Do outro lado, na primeira metade do primeiro tempo, Portugal não conseguiu montar uma única fase ofensiva. Se não estou enganado, Portugal não conseguiu colocar a bola nos 22 metros georgianos.

O jogo foi desenrolado num ambiente controlado pelos georgianos. Com superioridade a todos os níveis na luta entre os pack avançados (touche, melée, jogo no solo) Portugal foi resistindo como pode às incursões dos poderosos jogadores georgianos (avançados e 3\4; é de realçar que os 3\4 georgianos são tipos com um poderio físico bastante semelhante aos avançados) não podendo resistir mais quando, no último minuto da primeira parte, mais uma falta portuguesa na formação ordenada faz os georgianos dispensarem um pontapé aos postes dentro dos 22 metros, colocarem a bola fora para a touche, ganharem o alinhamento e em dois passes, obterem o seu primeiro ensaio da partida por intermédio de um dos seus centros. Ao intervalo, os georgianos venciam por 17-3 uma equipa portuguesa que se limitou praticamente a defender durante o primeiro tempo.

Na 2ª parte, os espectadores que marcaram presença no Estádio Universitário de Lisboa puderam assistir a uma mudança de atitude dos jogadores nacionais nos primeiros 10 minutos. Com mais posse de bola dentro do meio-campo georgiano, coube até à selecção nacional abrir o marcador na 2ª parte com mais um pontapé de Pedro Ávila (quase do meio-campo) a castigar uma falta georgiana no ruck. O jogador do CDUP não teve medo de arriscar novamente o seu pontapé e de certa maneira consolidou a sua posição enquanto pontapeador de penalidades da selecção, departamento do jogo onde Frederico Sousa não tem neste momento grandes opções.

Passados dois minutos, os georgianos não arriscaram e aproveitaram uma falta portuguesa dentro dos 22 metros para repor novamente a vantagem nos 14 pontos (6-20) com uma nova penalidade de Merab Krivikashvili. O jogador do St Julien do 3º escalão francês, melhor marcador da história da selecção georgiana logrou ultrapassar em Lisboa a barreira dos 500 pontos marcados pela sua selecção.

Na reposição da bola em jogo, Portugal tentou aproximar-se mais e Pedro Ávila aproveitou mais um erro georgiano para marcar mais uma penalidade difícilima a cerca de 40 metros em zona frontal. Os treinadores começaram a mexer no seu 15 (a selecção georgiana, comandada por um neozelandês, já o tinha feito ao intervalo com a troca de formações) e os georgianos começaram novamente a acelerar as suas jogadas ofensivas. Com facilidade conseguiram obter dois ensaios: um por Krivikashvili aos 58″ num lance em que o defesa-flanqueador teve alguma sorte do seu lado ao recolher à frente um ressalto que bateu na cabeça de Pedro Ávila quando tentava executar um passe para a direita e outro aos 70″ numa fácil troca de bola que seria finalizada pelo centro David Krachava no flanco esquerdo. Pelo meio, a selecção Portuguesa teve oportunidade de marcar o seu ensaio de honra numa excelente troca de bola à esquerda mas o neozelandês naturalizado Carl Murray, até aqui pouco em jogo na partida, foi muito bem placado junto à linha lateral.

O jogo acabaria por terminar com uma vitória fácil dos Georgianos por 34-9. Com 3 ensaios marcados, os georgianos não tiveram direito a um ponto de bónus. A selecção portuguesa aniquilou qualquer possibilidade de chegar ao 3º lugar da prova, posição que dá direito à disputa de um playoff contra a 2ª classificada da zona africana e depois contra a 1ª classificada da zona sul-americana (Uruguai) faltando disputar neste Torneio Europeu das Nações 3 partidas: uma daqui a 2 semanas em Bruxelas, outra na semana seguinte na Rússia e uma última em Lisboa em Março frente à nossa congénere espanhola. Com o fim do sonho do apuramento para o mundial, a selecção nacional entra definitivamente numa nova fase. Até à próxima ronda de apuramento para o mundial (16\17; ainda existe um Torneio Europeu das Nações na época 2015\2016) Frederico Sousa tem todo o tempo do mundo para completar a renovação em curso na selecção nacional de forma a conseguir construir uma equipa mais competitiva que a que a selecção nacional apresentou no Torneio Europeu das Nações 13\14.

Como nota final, deixo uma crítica para a Federação Europeia de Rugby (FIRA\AER) em virtude de um problema crónico que tem vindo a ser habilmente torneado pelas selecções mais fortes (Roménia, Rússia e Geórgia) que não abona em nada para a igualdade de condições que se pretende para a prova que apura as selecções europeias de 2º nível para a prova máxima da modalidade. Uma das razões que levou o seleccionador nacional a não ter um XV fixo durante as 7 jornadas até agora disputadas no torneio foi precisamente o facto dos clubes estrangeiros onde alinham jogadores portugueses não autorizarem a deslocação destes para alinhar em alguns jogos internacionais. As janelas internacionais programadas pela FIRA\AER em Fevereiro\Março são exactamente as mesmas que estão programadas por exemplo para o Torneio das 6 Nações, a prova máxima que junta Escócia, França, Inglaterra, Itália, País de Gales e Irlanda. Contudo, como se trata de uma prova menor (se um apuramento para um mundial é uma prova menor, vou ali e já venho) os clubes estrangeiros onde alinham jogadores portugueses não são obrigados a libertar os atletas. Na maior parte dos casos, no momento de assinatura do contrato, as equipas acordam com os jogadores portugueses o número de jogos em que podem ser libertados para a sua selecção durante o período estipulado contratualmente. Apesar dos principais campeonatos europeus não pararem nesta altura, as equipas grandes do rugby europeu acedem a libertar os seus melhores jogadores para as respectivas selecções sem que as federações sejam obrigadas a custear o salário do atleta durante as ausências dadas no clube.

No que diz respeito às selecções que disputam o Torneio Europeu das Nações, tanto a Federação Georgiana como a Federação Romena, federações com outras posses monetárias que a Federação Portuguesa de Rugby não dispõe, optam por pagar a libertação dos seus atletas aos clubes de forma a poderem competir com as suas melhores armas. Tal facto é efectivamente causador de mais desigualdade entre equipas que tem, à priori, níveis de evolução diferente.

O que eu ando a ver #35

Rugby Sevens World Series – Wellington, Nova Zelândia- há poucos minutos atrás.

 Inglaterra 36-7 Portugal

A selecção nacional estreou-se no torneio com uma derrota frente aos ingleses por 36-7. Registaram-se melhorias em relação ao jogo inicial da fase-de-grupos da etapa americana, disputada há 2 semanas atrás em San Diego, etapa onde os lobos foram fuzilados pelos ingleses por 54-0. Muitas ausências na equipa portuguesa em virtude do jogo da selecção de XV no sábado frente à Geórgia para o Torneio Europeu das Nações. Convocados para os XV, titulares indiscutíveis dos sevens como Pedro Ávila, Pedro Leal ou Carl Murray não podem dar o seu contributo na etapa neozelandesa.

4 ensaios a abrir dos ingleses na primeira parte selaram a previsível vitória no encontro. Nos primeiros 7 minutos e meio, a equipa portuguesa não conseguiu acompanhar o ritmo imposto pelos ingleses, não conseguiu estender a sua defesa e não conseguiu ter bola de forma a construir fases ofensivas. Na única posse de bola em que os portugueses conseguiram ter posse de bola nos 22 ingleses surgiu o único ensaio da equipa orientada por Pedro Neto. Diga-se de resto que o ensaio português foi o mais bonito da partida com o médio de formação André Aquino a jogar ao pé para as costas da defesa inglesa, abrindo espaço à entrada de Manuel Costa do Belenenses para o ensaio.

Na transmissão televisiva apareceu um dado curioso: Portugal é a equipa com mais erros não forçados nas transmissoes de bola (passes para a frente, toques para a frente) nas Sevens World Series com 93 erros cometidos em todos os jogos disputados na prova.

Nova Zelândia vs Fiji

Uma fantástica arrancada de trás do meio-campo de Samisoni Viriviri, jogador que recentemente assinou pelo Montpellier do Top 14 para a época 2014\2015, deu a vitória na 2ª parte às Ilhas Fiji sobre a Nova Zelândia. Numa partida em que os jogadores das duas equipas lutaram muito no chão pela posse de bola, as Fiji aproveitaram um sin bin a Scott Curry perto do fim da primeira parte para marcarem o seu primeiro ensaio na partida por intermédio de Emose Volevoro. Ensaio de resto não convertido no drop kick.

Na segunda parte a Nova Zelândia chegou a estar na frente do marcador por 7-5 (ensaio de Sherwin Stowers com conversão de Gilles Kaka) mas o ensaio de Viriviri a 3 minutos do fim haveria de ditar o resultado final em 12-7 para a selecção insular.

O que eu ando a ver #27

south africans

Sevens World Series

Depois da vitória na etapa Sul-Africana (Port Elizabeth) numa final disputada frente à Nova Zelândia, a equipa sul-africana tomou-lhe o gosto e voltou a vencer, desta feita na etapa americana de Las Vegas, batendo novamente os neozelandeses na final por 14-7. Os Sul-Africanos vencem assim a etapa norte-americana pela 2ª vez consecutiva. Já os Neozelandeses perdem pela 4ª vez consecutiva na prova realizada no estado do Nevada.

A equipa de Neil Powell aplicou uma mestria defensiva fantástica durante todo o torneio. Implacáveis a atacar, placadores efectivos a defender, os sul-africanos apenas sofreram 2 ensaios (14 pontos) durante todo o torneio, um deles na final frente aos neozelandeses onde até começaram a perder e a ver os All-Blacks jogar (nos primeiros 4 minutos os neozelandeses fizeram 21 passes contra 0 dos sul-africanos). A partir daí deu-se a reviravolta dos sul-africanos. Apesar do melhor breakdown (jogo no solo) dos neozelandeses, fruto de maior talento nesse departamento de jogo (Tim Mikkelson, TJ Forbes) a equipa sul-africana soube capitalizar todos os erros dos austrais, em particular, no lance do 2º ensaio com o poderosíssimo Werner Kok finalizou uma bola que começou num erro de Gilles Kaka. O primeiro ensaio dos Springboks foi obtido já no final da primeira parte por intermédio do meu homónimo “nada parecido comigo” Branco Du Preez, ensaio obtido praticamente na primeira jogada ofensiva da formação vestida com o verde da bandeira sul-africana.

Com esta vitória, à 4ª ronda nas World Series, os Sul-Africanos ultrapassaram os neozelandeses no 1º lugar da prova.

Nas outras “finais”:

– no jogo de atribuição de 3º e 4º lugar, o Canadá confirmou o excelente torneio que fez em Las Vegas ao bater a Samoa por 22-19. Os Canadianos venceram equipas bem mais fortes no caminho para as meias-finais da Cup (Quénia, Gales e França) perdendo apenas na fase de grupos para a África do Sul e nas meias-finais frente à Nova Zelândia.

– Na final da Plate, num dos melhores jogos do torneio a Inglaterra bateu a Austrália por 26-24.

– Na final da Bowl, as Fiji cilindraram o Quénia por 35-0

– Na final da Shield, os nossos vizinhos espanhóis foram cilindrados pela selecção da casa por 31-0.

A Selecção Portuguesa esteve presente no torneio, tendo vencido o Uruguai por 19-5 no jogo inaugural e obtido duas calamitosas derrotas por 54-0 frente à Inglaterra na 2ª jornada e frente a Samoa por 35-0. Apurada para a disputa da 3ª taça (Bowl), nos quartos-de-final desta perdeu contra a Escócia por 31-7. Passou para as meias-finais da Shield onde sucumbiu perante nuestros hermanos num jogo que terminaria 12-19.

 

campeões ibéricos

direito

Sem espinhas. Vitória na Taça Ibérica do campeão nacional em título, o Grupo Desportivo Direito sobre o campeão espanhol, o VRAC Valladolid por 41-11 no campo de Monsanto (24-6) ao intervalo. 4 taça ibérica para os “Advogados”, provando mais uma vez que o melhor do (profissional) campeonato espanhol de rugby é muito escasso para os clubes de gama alta do rugby português. Mais, se analisarmos as formações que entraram em campo: o GDD com 22 convocados de nacionalidade portuguesa e os homens de Valladolid com 5 estrangeiros.

O que eu ando a ver #7

portugal

Teste muito ambicioso para a selecção nacional de rugby nas vésperas da segunda volta do Torneio Europeu das Nações\Qualificação para o Campeonato do Mundo de 2015. Na antecamara do que considero “muito difícil”, ou seja, recuperar em 5 jogos (a disputar em Fevereiro\Março com 2 jogos fora na Rússia e na Roménia, esta última onde a selecção nacional apenas venceu 1 vez) os 7 pontos de desvantagem para a Rússia (para garantir um lugar no playoff final de acesso para o mundial contra a 2ª classificada da zona africana e 1ª da zona sul-americana) e os 12 de desvantagem para Geórgia e Roménia, a jovem selecção nacional de Rugby (recheada de caras novas e a trabalhar há poucos meses sob a liderança de Frederico Sousa depois da demissão do neozelandês Errol Brain) recebeu a selecção 15ª do ranking IRB (Canadá) no Estádio Universitário de Lisboa.

Portugal veio de uma vitória esmagadora na Arena Barueri em São Paulo contra o Brasil (no primeiro jogo disputado entre as duas selecções) por 68-0 num jogo em que a selecção brasileira, como se previa, não apresentou o nível adequado para dar alguma competição à nossa selecção. Não querendo ser crítico em relação ao trabalho dos responsáveis da Federação Portuguesa de Rugby, a ida dos Lobos a São Paulo nesta janela da IRB acabou por ser, na minha modesta opinião, contrasensual com o trabalho de evolução que se pretende para estes novos internacionais que Frederico Sousa inseriu na equipa visto que não é a jogar contra o Brasil que estes jovens irão ter a evolução necessária para encarar os próximos 5 jogos oficiais da equipa. A ida ao Brasil acaba até por chocar com a estratégia de “back on track” que a FIRA\AER traçou para o Rugby Português de forma a colmatar o défice competitivo que este sofreu nos últimos anos. Falo portanto da vaga na Amlin Cup (para os menos entendidos, a Amlin Cup é uma espécie de Liga Europa do Rugby) que a Federação Europeia granjeou esta época aos Lusitanos, equipa formada por jogadores da espinha dorsal da selecção, com o intuito de dar uma maior experiência aos jovens jogadores das equipas portuguesas com vista ao desenvolvimento da selecção portugal em particular e do jogo em Portugal.

O Canadá veio a Lisboa depois de 3 derrotas consecutivas contra os All-Blacks, Roménia e Geórgia. Contudo, o jogo contra os Georgianos em Tiblissi haveria de ser marcado (pela negativa) por uma vergonhosa batalha campal protagonizada em sonância pelos jogadores, dirigentes e público georgiano. Nada que espante um conaisseur dos habituais mimos que os homens de Tiblissi brindam a todas as selecções que os visitam.

O histórico de jogos entre a selecção portuguesa e a selecção canadiana prometiam um jogo equilibrado. Das últimas vezes que se tinham defrontado, os canadianos levaram a melhor por 3 e 8 pontos, sendo que numa dessas partidas a selecção Portuguesa esteve empatada até 4 minutos do fim da partida.

Confesso que só apanhei o directo aos 13″ com o Canadá a liderar por 7-0. Desde logo consegui apanhar o fio à meada. A Selecção Portuguesa apresentou ao longo de todo o jogo (excepto no lance do ensaio obtido por Pedro Ávila) uma grande dificuldade na montagem de fases ofensivas perante uma defesa canadiana muito experiente, muito equilibrada e muito coordenada tanto a deslizar para os flancos como a fechar todos os canais, não permitindo portanto grandes veleidades aos jogadores Portugueses. Tal facto obrigava invariavelmente os jogadores das linhas atrasadas portuguesas a pontapear bolas para os seus congéneres do lado oposto. Nesta estratégia, os canadianos sentiram-se em casa. Em duas três fases, colocavam os seus homens recuados a galopar com muito à-vontade nas linhas portugueses sem que em 2 ou 3 placadores as jogadas fossem travadas. Aí residiu outro dos problemas que a defensiva portuguesa não conseguiu executar ao longo do jogo. Aproveitando a organização (e o pontapé certeiro) do australiano naturalizado canadiano 15 James Pritchard (o mais experiente dos canadianos; jogou em clubes de topo como o Perpignan ou os Northampton Saints; a besta negra dos portugueses pelo número de pontos marcados sempre que actuou contra a selecção portuguesa), o poder de aceleração do ponta Taylor Paris e o enorme jogo do asa Moonlight que anulou por completo os portugueses nos rucks, rapidamente os canadianos chegaram a uma vantagem de 17-0 a meio do 1º tempo. Para travar Moonlight sentiu-se a falta de Julien Bardy. Portugal haveria de responder apenas com um pontapé de penalidade de Pedro Leal, reduzindo a vantagem canadiana de 17-0 para 17-3.

À excepção de Pedro Ávila que ao longo de todo o jogo tentou várias perfurações na defesa canadiana, a linha de 3\4 de Portugal foi uma sombra daquilo que costuma ser e alguns jogadores (como Miguel Leal) acabaram a primeira parte em enormes dificuldades físicas.

Nos descontos de tempo, depois de um turnover, James Pritchard ganha a bola de um dos pontas e num 2 para 1 contra Pedro Leal  assassina mais uma vez a selecção portuguesa sem grande oposição. 3-25. Péssima primeira parte portuguesa do ponto de vista defensivo. Grande primeira parte do veterano e mais experiente jogador canadiano james pritchard (20 pontos). Falha a conversão atirando aos postes.
Portugal tinha obrigatoriamente que melhorar certos aspectos na 2ª parte para se manter na partida: na parte defensiva teria que placar mais alto e com mais efectividade); na parte ofensiva, necessitava-se mais paciencia e organização na montagem das fases e mais bolas nas linhas atrasadas que não tiveram no primeiro tempo jogo à mão.

O descalabro.

Se no primeiro tempo, estes departamentos do jogo não foram vistos na exibição da selecção portuguesa, o pior haveria de vir no 2º tempo.

Com algumas alterações nas linhas recuadas da selecção, Frederico Sousa tentou colocar alguma paciência na organização do jogo ofensivo de Portugal com as 3 substituições ao intervalo. Das substituições resultou por exemplo a passagem de Pedro Leal de centro para a sua posição de origem a médio de formação. Nuno Penha e Costa entrou para 15 e Francisco Appletton entrou para o lugar do lesionado Miguel Leal.

Os primeiros 5 minutos da 2ª parte mascararam bem aquilo que veio a ser o compto geral dos 40 minutos. A selecção teve mais tempo com bola, mais paciencia para organização de fases e mais posse terrotorial. Muita batalha no meio-campo canadiano. Portugal perde a bola e o 6 canadiano Moonlight consegue receber bem um pontapé para as costas da defensiva portuguesa. É Vasco Uva quem o placa e quem evita o ensaio canadiano. Contudo, a aceleração do asa canadiano é superior à dos jogadores portugueses que se encontram nas imediações. Moonlight não consegue dar sequência à jogada e passa para a frente. Ficou a sensação que o ensaio canadiano ficou muito perto. Valeu Vasco Uva.

Aos 7″ falta portuguesa na introdução por derrube da melée, garante a pritchard mais um pontapé de penalidade facil em zona central dentro dos 22″. Pritchard converte e coloca o jogo em 3-28. Portugal entra melhor mas é o canadá quem aproveita todas as oportunidades de somar pontos.

11″ – O ponta canadiano Taylor Periss passa por um molho de jogadores portugueses (sem que alguém esboçasse uma placagem) e entra dentro dos 22″ onde é placado por Vasco Uva. Os canadianos colocam a bola perto da linha de ensaios mas acabam por perdê-la com uma grande intervenção ao pé de Erick dos Santos. O jogador de 20 anos do Biarritz (1ª liga francesa) parece um jogador de outro nível Na sequencia da jogada, o ponta Taylor Periss faz uma investida à mão e arruma 3 jogadores portugueses com alguns sidesteps até à linha de ensaio fazendo o 3-33. Com um pontapé facil dentro dos 22 em zona central James Pritchard eleva a conta pessoal e coloca o jogo num frustrante 3-35. Pritchard consegue o seu 25º ponto.

Os ensaios sucederam-se até ao resultado final de 8-52. – 22″ apareceu a melhor jogada do desafio para a selecção portuguesa que ali conseguiu sacar o seu ensaio de honra no meio do pesadelo tortuoso que foi o test-match contra os canadianos. Grande incursão de Vasco Uva que embalado no meio campo pelo canal central e depois de escapar a tres placagens transmite para o centro Pedro Avila que, com um hand-off afasta um jogador canadiano e marca o primeiro ensaio para Portugal. Pedro Leal não consegue converter o ensaio. 8-42 no marcador. Bom prémio para o esforço leonino de Vasco Uva, o unico jogador que conseguiu furar a bem armada defensiva canadiana e para Pedro Ávila, em conjunto com o mítico capitão nacional nunca se conformou com a péssima exibição dos seus colegas.
8-52 para os canadianos numa exibição muito triste da selecção nacional. Frederico Sousa afirmou no final à Sporttv que estes jovens vem de campeonatos pouco competitivos necessitando de evoluir com mais competição contra selecções deste nível, pelo que, não se pode esperar que estes jovens consigam jogar ao nível de selecções como o Canadá de um dia para o outro. Estas declarações a meu ver são, mais uma vez, indicadoras do puro contrasenso que acima afirmei em relação ao jogo que a selecção foi fazer a São Paulo. Sinceramente, creio que mais valia ter aproveitado bem esta janela para dar ritmo internacional a estes jovens atletas, coisa que não se vai adquirir contra uma selecção que não é mais forte do que qualquer selecção do Grupo C do Torneio Europeu das Nações. Mal por mal mais valia termos feito um jogo contra a selecção espanhola.