Ciclismo 2014 #30

volta catalunha

7ª e última etapa – Domingo

westra

O holandês Lieuwe Westra (Astana) tanto tentou (principalmente na Volta ao Algarve) que finalmente conseguiu vencer uma etapa nesta temporada através de uma fuga. Na chegada a Barcelona, na consagração de Purito Rodriguez como vencedor da volta da sua região natal, Westra chegou isolado e venceu a 7ª etapa da Volta à Catalunha.

A etapa começou com uma fuga protagonizada por 13 ciclistas logo ao quilómetro 6. Lieuwe Westra (Astana), Stef Clement (Belkin; vencedor de etapa no dia anterior), Marcus Burghardt (BMC; fugitivo nos dias anteriores), Ratto (Cannondale; o maior derrotado da prova também tentou a sua sorte através de uma fuga), Pineau (FDJ), Vallee (Lotto), Thomas Voeckler (Europcar), Perrig Quemeneur (Europcar), Beppi Fumiyuki (Trek), Paterski (CCC), Bagot (Cofidis), Jerome Baugnies (Wanty) e Michael Kreder (Wanty) tentaram a sua sorte na etapa corrida num circuito desenhado à volta da cidade condal.

Enquanto a vantagem dos fugitivos aumentava (sensivelmente 3 minutos nesta altura) ao quilómetro 58, Chris Froome caía dentro do pelotão numa queda colectiva. O britânico saiu ileso da queda e rapidamente se re-inseriu dentro do pelotão.

Westra 2

Até ao circuito final (8 voltas) a diferença dos fugitivos manteve-se nos 3 minutos e meio de diferença. Sentido a oportunidade, na 5ª volta, Thomas Voeckler decidiu atacar para poder vencer a etapa. O francês atacou e Lieuwe Westra foi o único capaz de responder ao ciclista francês da Europcar e isolar-se posteriormente na frente da corrida. Com cerca de 1 minuto de vantagem até ao final da etapa, o holandês geriu a diferença e venceu isolado a etapa com 1 minuto e 22 segundos de diferença para Voeckler e Marcus Burghardt.

Tinha afirmado no último post que apesar de ser a última etapa, esta poderia não ser a etapa típica de consagração do líder da prova. Enquanto Westra alinhava sozinho na frente, no pelotão, com 4 segundos de diferença na geral para Purito Rodriguez, Alberto Contador tentou o seu ataque a 2 km da meta de forma a conseguir anular a diferença de Purito. O espanhol teve resposta imediata do seu compatriota e de Tejay Van Garderen (BMC), outro dos interessados em estabelecer diferença nesta última etapa. O Norte-Americano precisava de recuperar os 7 segundos de diferença que tinha para Purito para poder vencer a geral da prova. No entanto, nenhum deles conseguiu retirar a ténue diferença no cronómetro para o ciclista da Katusha, tendo este vencido a geral da prova.

Anotamento meu: Purito venceu a prova com um fantástico ataque disferido nos quilómetros finais da 3ª etapa (1ª das 2 de montanha) mostrando que é neste momento o único ciclista capaz de estabelecer diferenças consideráveis num curto espaço de terreno. O desempenho do ciclista catalão perante Chris Froome faz-me aguardar com alguma ansiedade o próximo Tour de France. Com Quintana ausente por opção da Movistar (irá correr Giro e Vuelta), os espanhóis são na minha opinião os únicos capazes de rivalizar com o britânico na prova francesa. Froome, Contador, Quintana e Van Garderen estiveram à altura da prova, dando algum espectáculo na alta montanha. O Norte-Americano venceu categoricamente a etapa raínha da prova. Perante um leque de ciclistas tão elevado, a prova merecia mais 1 ou 2 etapas de montanha nem que para tal tivesse que entrar em território andorrenho.

Purito 2

catalunha 7

Destaque também para o 4º lugar de Romain Bardet. O jovem ciclista francês de 24 anos andou taco-a-taco na alta montanha com os maiores trepadores da actualidade. Será desta que os franceses tem aqui um diamante em bruto capaz de ser lapidado para vencer a Grand Boucle dentro de alguns anos?

Desilusões:

Daniel Martin – O irlandês, vencedor da prova em 2013, prometeu andar com os melhores mas passou claramente ao lado da prova.

Carlos Betancur – Talvez a acusar o esforço dispendido na Paris-Nice, o colombiano ficou para trás logo na primeira dificuldade e no dia seguinte, fez a mala e voltou para casa. Bardet salvou a honra da AG2R. Esperava-se muito mais do colombiano numa altura da temporada em que toda a gente colocava Betancur na lista de favoritos à vitória na geral da prova.

A classificação da montanha foi ganha por Stef Clemens da Belkin. A Garmin venceu colectivamente.

 

Gent – Welvegen – Domingo

John Degenkolb 2

Semana de sonho para a Giant-Shimano. A equipa holandesa já soma 14 vitórias em etapas neste primeiro trimestre de temporada sendo para já, em conjunto com a Omega e com a Cannondale, uma das equipas mais dominadoras deste início de temporada. Luka Mezgec deu 3 alegrias em outros tantos sprints na Volta à Catalunha. Na primeira das míticas clássicas das colinas dos países baixos, John Degenkolb tratou de colocar a cereja no topo do bolo.

A Nata das clássicas deslocou-se à Bélgica para correr a primeira das clássicas belgas da primavera. John Degenkolb (Giant), Fabian Cancellara (Trek), Peter Sagan (Cannondale), Tom Boonen (Omega) Alexander Kristoff (Katusha), Phillip Gilbert (BMC), André Greipel (Lotto), Tyler Farrar (Garmin), Geraint Thomas (Sky) e Greg Van Avermaet constituam o principal grupo dos favoritos à vitória na prova. A única ausência de destaque na prova foi o campeão do mundo. A Lampre decidiu não escalonar o português para a prova. A prova não se adequava às características do português. Teremos que esperar pelas rampas de Liége e pelas rampas de Valkenburg (Amstel Gold Race) para ver o ciclista português em acção nas clássicas da primavera. Neste mês de Abril, o português irá disputar a Volta ao País Basco, prova onde é um dos principais favoritos à vitória na geral.

Os primeiros a tentar sair do pelotão foram Sebastian Lander (BMC), Manuele Boaro (Tinkoff), Jacobus Venter (MTN-Qubeka), Marcel Aregger (IAM) e Frederick Veuchelen (Wanty). Destaque para a Qubeka e para Wanty. Não sendo das principais equipas da divisão UCI Pro Continental tem estado muito bem nas provas em que são convidadas para correr com as equipas de World Tour. Apesar de terem orçamentos muito inferiores aos das equipas de World Tour e ciclistas menos cotados (de referir que o líder da Qubeka é o alemão Gerald Ciolek; não é um mau sprinter e até consegue de vez em quando inserir na luta entre os melhores, mas, também não é propriamente uma estrela do ciclismo mundial; o chefe-de-fila absoluto da Wanty é o italiano Danilo Napolitano), as primeiras exibições executadas durante a presente temporada nas provas a doer, provaram que estas duas equipas tem ciclistas muito combativos, que de resto, ao contrário de outras equipas com maior potencial e maiores ambições (casos da Cofidis e da Caja Rural; equipas que almejam vencer a divisão para poderem reclamar uma licença de World Tour na próxima temporada) tem-se escondido dentro do pelotão nas provas que tem corrido.

Esta fuga só seria anulada a cerca de 50 km para a meta. Em desespero, quando o pelotão já se aproximava a alta velocidade, Manuele Boaro ainda tentou sair do grupo em solitário. Seria apanhado poucos quilómetros depois.

As primeiras movimentações tácticas eram feitas lá atrás. A perseguição era feita por um pequeno grupo de ciclistas no qual estavam Sagan, Cancellara e Boonen. Uma queda tinha afastado quase todos os outros candidatos à vitória. Desse grupo haveriam de sair a 22 km da meta, Stijn Devolder (Trek), Silvain Dillier (BMC) e Andrey Amador (Movistar). Ameaçada pela presença de Devolder no ataque, a Omega de Boonen tratou de colocar Guillaume Van Keirsbuick em posição intermédia para tentar estabelecer a ponte entre os dois grupos. A ideia da Trek era colocar Devolder em posição intermédia para auxiliar posteriormente Cancellara vindo de trás. Já Dillier poderia fazer suspeitar que Phillipe Gilbert também poderia sair do grupo dos favoritos.

O que é certo é que o trio foi andando e só a 1 km da meta colocada em Welvegem foi alcançado pelo grupo principal, mais alargado nos quilómetros finais, graças à perseguição organizada feita em conjunto pela Cannondale de Sagan, pela Omega de Boonen e pela Giant-Shimano de Degenkolb. A Lotto-Belisol (a trabalhar para Greipel) e a Tinkoff também deram uma ajuda nos quilómetros finais. Se a equipa dinamarquesa pouco ou nada tinha a ganhar num sprint final contra os tubarões (mesmo com Daniele Benatti em prova), a equipa Belga trabalhou bem para o seu líder mas Greipel haveria de trocar as voltas ao envolver-se numa queda com Tyler Farrar nos metros finais. Os habituais empurrões de Greipel e as habituais mudanças bruscas de trajectória do norte-americano (manobras que de resto são odiadas e muito criticadas por meio pelotão) haveriam de provar em Welvegen o seu próprio veneno.

Quem aproveitou toda esta confusão, como o próprio afirmou no final da prova foi John Degenkolb. O holandês foi novamente letal e venceu o expectante Arnaud Demare (sempre discreto e muito bem colocado dentro do pelotão) no sprint final com o noruguês Kristoff novamente muito perto do brilharete.

 

Criterium Internacional da Corsega

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Numa das provas fetiche de Tiago Machado (Net-App-Endura), na qual o português já venceu a classificação da Juventude em 2010 e tinha feito um 5º lugar na geral em 2011, o ciclista da equipa alemã fez neste fim-de-semana pódio.

O critérium internacional da córsega é um dos vários critérios organizados em frança pela ASO, a empresa que detém os direitos de organização do Tour e agora da Vuelta, esta última, partilhada com a Unipublic. Na prova de 3 etapas, na qual participaram nomes como Jean-Christophe Peraud (vencedor da geral deste ano), Franck Schleck (Trek), Alexis Villermoz (AG2R), Michele Scarponi ou Janez Brajkovic(Astana), o português foi 3º à geral com 19 segundos de diferença para Peraud. Excelente participação do português que este ano irá correr o Tour em conjunto com outro português José Mendes pela equipa alemã.

Tour de Panne

1ª etapa – hoje

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Sagan. Quem mais?

Mesmo a travar, The Terminator conseguiu vencer a primeira etapa do Tour de Panne, prova de 3 dias corrida na Bélgica, antecamara da prova de domingo, a perigosa Volta à Flandres.

Durante 3 dias, o pelotão que irá correr a Volta à Flandres (com umas equipas belgas de Pro Continental à mistura) irá experimentar novamente a experiência duríssima de correr etapas recheadas de segmentos de pavé seguidas de inclinadas colinas de 500\700 metros com pendentes de 7 e 8%.

Na primeira etapa da prova belga, uma fuga composta por ciclistas belgas de equipas menores (Wanty, Top-Sport; o único nome conhecido presente no grupo era Pim Ligthart da Lotto-Belisol; vencedor do prémio da montanha da Paris-Nice) obrigou Sagan a lançar-se com o colega de equipa Oscar Ratto e dois ciclistas da Omega ( um deles Gert Steegmans) a 9,5 km da meta numa altura em que os segmentos de pavé sucedidos de violentas rampas de 450 e 700 metros, respectivamente, estavam a cortar o pelotão em pequenos grupetos.

Sagan e Gatto chegaram ao grupo principal, obrigando Arnaud Demare a tentar fazer a ponte a cerca de 6 km da meta. O francês conseguiu chegar perto de Sagan mas viu de longe a sui-géneris vitória do eslovaco no sprint (lançado por Mauro Finetto da Bardiani; Finetto foi muito inteligente ao ser o primeiro a saltar do grupo principal para o grupo dos fugitivos quando ainda faltavam 20 km para a meta) quando o mesmo se encontrava a travar para oferecer a vitória ao colega de equipa Oscar Gatto. Num primeiro momento, pensou-se que teria sido Gatto a vencer a prova mas, no photo-finish, a roda de Sagan cruzou primeiro a linha de meta que a roda do outro homem da Cannondale. A imagem apresentada pela organização continha um pormenor delicioso: Sagan estava com a mão esquerda no travão a tentar travar para Gatto vencer a etapa perante a oposição de Alexander Kristoff. No final da etapa, Gatto mostrou-se todavia satisfeito com a vitória do colega de equipa, realçando que o objectivo da equipa era simplesmente vencer a etapa e preparar a grande prova de domingo.

Apesar de amanhã haver uma etapa em linha tão dura quanto a etapa de hoje, o mais provável é que a classificação geral se decida na quinta-feira no contra-relógio individual que fecha a prova.